sábado, 24 de março de 2012

Fina Estampa


Ontem foi ao ar o último capítulo de “Fina Estampa”, novela escrita por Aguinaldo Silva e dirigida por Wolf Maya. Na minha opinião, o último capítulo foi coerente com o resto da novela: sem nexo.

O objetivo de “Fina Estampa” era ser uma novela popular, dirigida principalmente pra Classe C, assim como vários outros programas “globais”: “Tapas e Beijos”, “A Grande Família” e “Esquenta”. E Aguinaldo Silva foi feliz em suas decisões. A novela era o assunto nas ruas, nas redes sociais e a Pereirão (Lília Cabral) — a personificação da classe média — foi até capa da Revista Veja, que foi comemorado pelo autor. Mas, em comparação com tantas obras da dramaturgia brasileira, “Fina Estampa” foi clichê, sem atrativos e com uma história desconexa.


A começar pela personagem de mais sucesso que, na minha opinião, foi uma das piores criações do Aguinaldo Silva: Teresa Cristina (Christiane Torloni). No início da novela, ela se mostrava uma mulher fútil e consumista que é completamente aceitável. Achava as atitudes dela um pouco exageradas, mas eu até achava engraçado. A história dela se cruza com a da Griselda, e Teresa Cristina começa a alimentar um ódio incontrolável por Pereirão.

Com a ajuda de Ferdinand (Carlos Machado) — um “vilão” principiante que tinha tudo para ser o terror da novela —, Teresa Cristina tentou matar os três filhos de Griselda — Amália (Sophie Charlotte), Quinzé (Malvino Salvador) e Antenor (Caio Castro) — e no fim ainda tenta pôr fogo na matriarca. Podemos pensar que a vilã agiu dessa maneira por raiva, ressentimento ou inveja, mas sinceramente isso é pedir demais para nossa imaginação. Por fim, Teresa Cristina se justifica dizendo que age daquela maneira por vício. Ah, me poupe!

Além disso não posso deixar de falar das cenas absurdas em que a Teresa Cristina agradece a Nazaré Tedesco (Renata Sorrah em “Senhora do Destino”) por suas “dicas”, como quando ela mata pessoas jogando-as pela escada ou, como no último capítulo, matando Ferdinand eletrocutado numa banheira. Criatividade!

Teresa Cristina também tinha um segredo cabeludo — que de cabeludo não tinha nada — que foi logo descoberto pela jornalista Marcela (Suzana Pires). Marcela é assassinada, mas, de uma hora pra outra, ela reaparece. Mas não era a morta, era sua irmã gêmea, Joana, que vinha em busca de vingança. E onde foi parar essa vingança?

Assim como Joana, “Fina Estampa” estava cheio de personagens desnecessários: Chiara (Helena Ranaldi), Isolina (Guida Vianna), Alice (Thaís de Campos) e Mandrake (Sandro Pedroso) são só alguns exemplos.

O Enzo (Júlio Rocha) é um caso a parte. Estou louco para ver o Júlio Rocha com um personagem de verdade para que ele mostre que ele é um péssimo ator. Assim como acontecia com Rafael Cardoso — que realmente mostrou que tem algum préstimo em “A Vida da Gente” — os personagens do Júlio Rocha valorizam-no só pelo fato de que todos eles estão sempre sem camisa, pegando mulher e dando uma de galã. Isso pra mascarar a sua péssima atuação. Arrisco-me a dizer que o Júlio Rocha só estava em “Fina Estampa” pra satisfazer o desejo do Aguinaldo Silva de vê-lo sem roupa.


E pra terminar com os absurdos da novela, venho lamentar a falta de uma solução para o segredo do Crô (Marcelo Serrado). Em um momento da novela, disseram que o amante do Crodoaldo Valério era o cozinheiro Fred (Carlos Vieira), mas Aguinaldo deve ter mudado de ideia e o segredo do Crô continuou até o último capítulo. Continuou até o último capítulo para não ser revelado! Aguinaldo Silva disse que qualquer amante para o Crô seria pouco para esse personagem tão grande. Mas não dava pra avisar isso antes, não? Deixou todo mundo com cara de pastel.

Mesmo com todas essas estruturas mal-construídas, “Fina Estampa” tinha alguns pontos positivos: Griselda serve para comprovar que Lília Cabral está com a moral lá em cima dentro da Globo e mostra que ela tem talento de sobra; o Pereirinha (José Mayer) era um ótimo personagem que poderia ter tido mais importância na trama; o núcleo formado por Baltazar (Alexandre Nero), Celeste (Dira Paes) e Solange (Carol Macedo) era o que de melhor tinha na novela; e o próprio Crô que, na minha humilde opinião, foi um péssimo personagem cômico, mas caiu nas graças do povo e é isso que interessa para os patrocinadores.

O último capítulo de “Fina Estampa” teve picos de 49 pontos e cumpriu a tarefa de aumentar a média de audiência do horário nobre da Globo. Mas, pra mim, só serviu para aumentar a arrogância do Aguinaldo Silva que fez analogias a várias de suas novelas e frisa em dizer que as suas novelas são as que fazem mais sucesso. O pior é que é verdade!