Ontem foi ao ar o último
capítulo de “Fina Estampa”, novela escrita por Aguinaldo Silva e dirigida por
Wolf Maya. Na minha opinião, o último capítulo foi coerente com o resto da
novela: sem nexo.
O objetivo de “Fina
Estampa” era ser uma novela popular, dirigida principalmente pra Classe C,
assim como vários outros programas “globais”: “Tapas e Beijos”, “A Grande
Família” e “Esquenta”. E Aguinaldo Silva foi feliz em suas decisões. A novela
era o assunto nas ruas, nas redes sociais e a Pereirão (Lília Cabral) — a
personificação da classe média — foi até capa da Revista Veja, que foi
comemorado pelo autor. Mas, em comparação com tantas obras da dramaturgia
brasileira, “Fina Estampa” foi clichê, sem atrativos e com uma história
desconexa.
A começar pela personagem
de mais sucesso que, na minha opinião, foi uma das piores criações do Aguinaldo
Silva: Teresa Cristina (Christiane Torloni). No início da novela, ela se
mostrava uma mulher fútil e consumista que é completamente aceitável. Achava as
atitudes dela um pouco exageradas, mas eu até achava engraçado. A história dela
se cruza com a da Griselda, e Teresa Cristina começa a alimentar um ódio
incontrolável por Pereirão.
Com a ajuda de Ferdinand
(Carlos Machado) — um “vilão” principiante que tinha tudo para ser o terror da
novela —, Teresa Cristina tentou matar os três filhos de Griselda — Amália
(Sophie Charlotte), Quinzé (Malvino Salvador) e Antenor (Caio Castro) — e no
fim ainda tenta pôr fogo na matriarca. Podemos pensar que a vilã agiu dessa
maneira por raiva, ressentimento ou inveja, mas sinceramente isso é pedir
demais para nossa imaginação. Por fim, Teresa Cristina se justifica dizendo que
age daquela maneira por vício. Ah, me poupe!
Além disso não posso
deixar de falar das cenas absurdas em que a Teresa Cristina agradece a Nazaré
Tedesco (Renata Sorrah em “Senhora do Destino”) por suas “dicas”, como quando
ela mata pessoas jogando-as pela escada ou, como no último capítulo, matando
Ferdinand eletrocutado numa banheira. Criatividade!
Teresa Cristina também
tinha um segredo cabeludo — que de cabeludo não tinha nada — que foi logo
descoberto pela jornalista Marcela (Suzana Pires). Marcela é assassinada, mas,
de uma hora pra outra, ela reaparece. Mas não era a morta, era sua irmã gêmea,
Joana, que vinha em busca de vingança. E onde foi parar essa vingança?
Assim como Joana, “Fina
Estampa” estava cheio de personagens desnecessários: Chiara (Helena Ranaldi),
Isolina (Guida Vianna), Alice (Thaís de Campos) e Mandrake (Sandro Pedroso) são
só alguns exemplos.
O Enzo (Júlio Rocha) é um
caso a parte. Estou louco para ver o Júlio Rocha com um personagem de verdade
para que ele mostre que ele é um péssimo ator. Assim como acontecia com Rafael
Cardoso — que realmente mostrou que tem algum préstimo em “A Vida da Gente” — os
personagens do Júlio Rocha valorizam-no só pelo fato de que todos eles estão
sempre sem camisa, pegando mulher e dando uma de galã. Isso pra mascarar a sua
péssima atuação. Arrisco-me a dizer que o Júlio Rocha só estava em “Fina Estampa”
pra satisfazer o desejo do Aguinaldo Silva de vê-lo sem roupa.
E pra terminar com os
absurdos da novela, venho lamentar a falta de uma solução para o segredo do Crô
(Marcelo Serrado). Em um momento da novela, disseram que o amante do Crodoaldo
Valério era o cozinheiro Fred (Carlos Vieira), mas Aguinaldo deve ter mudado de
ideia e o segredo do Crô continuou até o último capítulo. Continuou até o
último capítulo para não ser revelado! Aguinaldo Silva disse que qualquer
amante para o Crô seria pouco para esse personagem tão grande. Mas não dava pra
avisar isso antes, não? Deixou todo mundo com cara de pastel.
Mesmo com todas essas
estruturas mal-construídas, “Fina Estampa” tinha alguns pontos positivos:
Griselda serve para comprovar que Lília Cabral está com a moral lá em cima
dentro da Globo e mostra que ela tem talento de sobra; o Pereirinha (José
Mayer) era um ótimo personagem que poderia ter tido mais importância na trama; o
núcleo formado por Baltazar (Alexandre Nero), Celeste (Dira Paes) e Solange
(Carol Macedo) era o que de melhor tinha na novela; e o próprio Crô que, na
minha humilde opinião, foi um péssimo personagem cômico, mas caiu nas graças do
povo e é isso que interessa para os patrocinadores.
O último capítulo de “Fina
Estampa” teve picos de 49 pontos e cumpriu a tarefa de aumentar a média de audiência
do horário nobre da Globo. Mas, pra mim, só serviu para aumentar a arrogância
do Aguinaldo Silva que fez analogias a várias de suas novelas e frisa em dizer
que as suas novelas são as que fazem mais sucesso. O pior é que é verdade!